“Bom dia Verônica ”! Algumas lições no momento atual.

DOMINGOS OLIVEIRA DE SOUSA
3 min readOct 15, 2020

Em certa medida, ou em medida larga; esta série é uma provocação ao atual governo. Um modelo de justiça, de polícia e de política avesso à verdade e isto implica na função constitucional do Estado. Coloca em dúvida o Estado de Direito e o existir das leis e das instituições que a representam. E que vale? “ a tortura, a bala, o silêncio, a intimidação e a morte”. Esta é a primeira lição. As lições que se seguem é a sobrevivência e a suas próprias leis. Não se deve procurar autonomia moral, o que se tem é sujeito estratégico.

Eis que, Verônica significa “ portadora da vitória, bem como “imagem verdadeira”. Este é o percurso que desafia a personagem de AndreaKillmore. Que tipo de vitória tem se encaminhado esta personagem, na busca de solução do suposto crime cometido pelo pai? De tal modo que, descobre a teia de relações entre os seus pares na delegacia? A partir daí, indago: qual a imagem verdadeira desta Verônica: autônoma moralmente ou heterônoma?

A segunda lição é a criação da heroína na personagem interpretada por @tainamuller. Foge-se do romantismo açucarado para um realismo perverso, macabro de escolhas difíceis, bem como a morte social da personagem central. Esta é a questão. Estamos em uma sociedade pelo avesso onde “os homens são maiores que as instituições” e Verônica vai descobrindo a teia de sua trama. Isto é, quem é quem nesta trama a todo tempo. Quem é possível confiar? Quem deve desconfiar a todo tempo? Neste cenário, ela vai perdendo a confiança a quase todos a sua volta. De tal que, o que vale é a sua sensibilidade e capacidade da busca tal verdade que leva o seu nome: Verônica por Verônica.

A terceira lição é que a série é tensa. Este esforço conjunto de tensão se traduz o livro de AndreaKillmore; isto é, @ilanacasoy e de @raphael_montes; bem como a direção José Henrique Fonseca, que se traduz na tela da Netflix. As atrizes e atores(@tainamuller,@CamilaMorgado,@dudumoscovis,@antoniograssi entre outros) dão vida a uma tensão gigantesca. Nos conduz para um universo, onde ser mulher é algo menor, que sai de uma região do país na busca de melhores condição de vida e vai ao encontro com a morte em sofisticação de crueldade na interpretação do Tenente Coronel Claudio Antunes Brandão.

Isto que o mais duro. A corrosão da justiça e da própria polícia. No momento que a personagem central recorreu a quem possivelmente poderia confiar. Percebeu que nada poderia fazer, a não ser fugir e matar-se socialmente para sobreviver naquele universo e/ou ainda caçar àqueles que de alguma forma impossibilitavam a sua sobrevivência como Verônica, esposa, mãe, escrivã de uma delegacia de polícia na cidade de São Paulo.

De fato, a realidade é tão tensa quanto a ficção, segundo os dados do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Em 2017, as regiões norte e nordeste é onde os percentuais são mais altos. Isto não quer dizer que não se mate mulher em outras regiões do Brasil. Se for verificar a cor da pele das mulheres, a negra tem um percentual significativo, 29,9%, enquanto as não negras 4,5%, segundo o IPEA este percentual encontra-se em crescimento. Chama atenção também dois índices, ou seja, as mulheres morrem mais no ambiente familiar, ou seja, 17,1% e por arma de fogo 28,7%. Só perde para as mulheres a população de cor de pele negra, que chega ao percentual de 75,5% vítimas de homicídio no Brasil.

Ainda não há conclusões, e sim, a exposição de uma realidade de quem busca a verdade frente a um panorama social de heteronímia moral. A busca de Verônica em salvar a vida de Janete é um sinal que a vida da mulher brasileira ainda vale pouco “no mercado dos bens simbólicos” lembrando Bourdieu. Vale a pena ler o livro e ficar na expectativa dos próximos passos desta personagem brasileira.

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